A SEDE DA ORQUÍDEA

ROBERTO AMARAL

Ao mitigar a sede diária
dessa orquídea de brancas pétalas,
nutro-me com sua decomposição.

O cuidado
que ela me requer
dispõe-nos na luta
contra mútuos empalidecimentos.

Um dia,
ambos,
teremos sido
sementes dispersas
e desperdiçadas,
cultivadas em solo raso.

Por enquanto,
ao regar
o seu irrisório torrão,
faço-me humano de metal,
e, ela, se perpetra
em flor de plástico.


Roberto Amaral (Palmas/TO) é escritor, poeta, ensaísta e professor. Autor de Veredazinhas eleitas: rasuras lacanaianas em Grande sertão: veredas (no prelo); A teofania em Grande sertão: veredas; Do mundo, suas delicadezas; 54 [+ uma] mulheres do baralho; Contos extraviados; Uma Denise; Le mot juste; e Paul Ricoeur e as faces da ideologia. Organizador e autor do livro Leituras superviventes de “O burrinho pedrês”.

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