OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA
escrevo no meu caderno
só pra tatear a página ao lado
o destino de todo moderno
é ser ultra
passado
HIERÓGLIFOS DO FUTURO
A forma das cidades muda mais rápido,
bem mais, que um coração mortal
Baudelaire, “O Cisne”
eis aqui
gravado em alguma parte
a primeira metade da arte
o transitório
o contingente
o ilusório
a efêmera
ultramodernidade
(o que para alguns seria
mero objeto de descarte)
a outra metade
a meta da arte
o imutável
o absoluto
o infindável
a glória
a encantar-te
não caberia sequer
no segundo encarte
é desde a antiguidade
uma questão
de vida ou morte
luta corporal incessante
de reter o poético no histórico
de extrair o perene do instante
o que os antigos modernos
chamariam de eternidade
Samuel Marinho (São Luís/MA, 1979) é poeta, autor dos livros Pequenos poemas sobre
grandes amores (2002), Poemas in outdoors (2018), Poemas de última geração
(2019, finalista do Prêmio Jabuti de 2020), Fotografias para perfis fakes (2021) e
Antiquário Moderno (2023). Os poemas selecionados são do livro Antiquário Moderno (Penalux, 2023).