JÁ NÃO HÁ PAREDES MIGRANDO NA TUA
AUSÊNCIA…
Quando arranquei
teus olhos da parede
perdi as unhas.
Perdi o olfato
arranhando memórias
. …… .do teu cheiro.
Perdi a pele dos dedos
e senti os ossos raspando
as janelas do desencanto.
Já havia perdido a razão
exata de todas as certezas.
Era dor, mas
também libertação.
O cerco do teu olhar
vigiava a minha sede.
Dedos sem carne
alguma. Coração
fugindo pela boca.
‘Coloquei teus olhos
sobre a mesa e decidi
guardá-los na distância.
Não furei as pálpebras
nem salguei a íris.
Deixei as lágrimas
secando na sombra
solene dos dias…
Mirei de frente aquele
imenso desapego.
Fiquei só.
Sem unhas, sem a pele
descarnada dos dedos.
Falanges esquecidas
sem o sangue apodrecido
da despedida.
OS ERÊS DE GAZA
As crianças de Gaza
não brincam mais.
Não comem mais.
Não dormem mais.
Vivem no martírio
da próxima explosão.
Quem sabe os passos
de um soldado com
olhos de extermínio.
Um rio de sangue
corta o deserto,
singrando lágrimas
mediterrâneas…
Há um silêncio
de morte que
o mundo não
escuta.
LAU SIQUEIRA nasceu em Jaguarão, no Rio Grande do Sul e reside há décadas na Paraíba. Publicou dez livros de poemas e participou de diversas antologias no Brasil e no exterior. Possui diversas parcerias musicais e é autor juntamente com o músico e amigo Paulo Ró do álbum Quarta Capa. Escreve sobre arte, cultura e literatura em portais, jornais e revistas.