2 poemas de BIOQUE MESITO

CADUCA

há entre as coisas um desejo insatisfeito
insano destino que chega entre as gentes
o silêncio da pedra que acorda nossa alma
perpétuo ser deslizante às cores cinzentas
não existirá mais nenhuma veloz mudança
nem os discursos entre as línguas insossas
pois o vento de uma tarde inteira sozinho
ou mesmo o fecho de uma mulher na face
poderão conter o fogo que arremessas
dos olhos toda tristeza que guardamos
na frondosa rosa que choca-se ao chão
os perigos de existir não são desfechos
atirados ao relento pelas nossas culpas
ao morrer despimo-nos de toda essência

 


A CASA DAS PRIMEIRAS INVENÇÕES

a minha avó limpando o terreiro
me lembrava a velha da litania
as paisagens mórbidas e sutis
do antigo bairro do sacavém

não sei ao certo o que ela catava
talvez folhas ou inúteis pedregulhos
ficava imaginando aquele mundo
como se as tardes fossem minhas

em seus estampados de chita
dançava sinuosa entre a chuva
segurando as cadeiras na varanda

observava subir entre os telhados
pegando frutos que caíam maduros
sem saber que tudo um dia acabaria

 

Bioque Mesito é poeta, nascido em 3 de fevereiro de 1972. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poemas A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001 e com reedição comemorativa aos 20 anos de seu lançamento pela Editora Penalux-SP, 2021); A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-
MA, 2008); A desordem das coisas naturais (Editora Penalux-SP, 2018); Odisseia do nada registrado (Editora Penalux-SP, 2020) e Uma estranha maneira de se comparar amanhãs (Editora Penalux-SP, 2021).

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