2 poemas de TITO LEITE

STRAVINSKY

A vida, ainda que hercúlea,
é estreita: não há iluminuras
sem o extermínio de uma estrela.

Em cada ode, o poeta canta
uma morte: como quem recria
uma semente de alegria
no recreio dos segregados.

Rosa primavera sacrificada.
Queremos o insonhável:
a sagração do juízo inicial.

ANDES

Gosto dos mochileiros
que caminham pelos
Andes com o peso do
mundo em seus diários

vendendo seus artesanatos
baratos quase trocando
por um cigarro

como quem
se torna pombo de praça
ou faz de um origami
uma montanha.

Gosto dos mochileiros
que caminham pelos
Andes carregando outros
mundos em seus olhos

como se o hoje fosse
uma aurora nômade.

Tito Leite nasceu em Aurora (CE) em 1980. É mestre em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Poeta e ficcionista, é autor dos livros de poemas Digitais do caos (2016, edith), Aurora de Cedro (2019, 7letras) e A palavra em seu deserto (2023, Cloe). Estreou na prosa em 2022 com o romance Dilúvio das almas (Todavia). Jenipapo Western, é o novo romance (2024, Todavia).